Sem Título
Fernando vai descendo pela Rio Branco, correndo até um ponto de ônibus, afinal é verão e chuva cai torrencialmente. Não lhe passa pela cabeça pegar o Metrô nem esperar embaixo de uma marquise caso ache uma. Vê a Candelária à esquerda, atravessa as pistas da Presidente Vargas e chega a um ponto de ônibus. Ofegante, observa o céu negro de nuvens pelo corredor formado pelos prédios da Avenida, escura como se fosse início de noite, podendo enganar os sem-relógio, que não acreditariam ser apenas três e meia da tarde. “Sair mais cedo da faculdade não foi uma idéia tão boa assim, teria sido mais inteligente ter esperado pelo menos meia-hora lá.” Esse era seu pensamento agora, mas não quando saiu, ter que ficar aturando os as crias da, segundo ele, “fútil ‘elite’ burguesa” falando que “meu carro tem isso” e o outro “mas não tem aquilo do meu”. Realmente foi melhor ter saído logo, até porque as garotas, que tinham um papo legal apesar de tão fúteis quanto os homens, tinham ido todas ver um desfile de moda de uma loja de grife no próprio centro.
Ele olha novamente em direção à Central do Brasil, onde passa um jatinho branco contrastando com o céu cinzento. Seu ônibus chega, e como todos os outros, pára 10 metros depois do ponto, fazendo os passageiros correr para entrar no coletivo, não muito cheio, mas que pela fila para entrar, o faria ir em pé até a Lagoa. O ônibus vira à direita, entrando na Rio Branco e vai andando bem devagar devido ao trânsito intenso. Da janela embaçada do ônibus o pouco que se pode ver é um mar cinza com manchas coloridas das capas de chuva. Assim que chuva dá uma trégua, Fernando resolve ir para o lado direito do ônibus, onde um senhor, sensatamente, deixa as janelas abertas para o ar circular. Após entrar na Rio Branco, o enorme engarrafamento começa. Os passageiros conversam sobre os mais diversos assuntos, como o Fla-Flu do dia anterior, as declarações do ex-presidente a respeito dos funcionários públicos pela manhã, misturados aos assuntos particulares. Não muito fã de conversa de ônibus, não demora a ligar o mp3 player. “Só punk-rock pra agüentar esse trânsito e melhorar o ânimo”, pensa ele.
As curtas músicas passam junto com os minutos, enquanto a mente viaja nas lembranças da viagem para mergulhar em Angra no fim-de-semana. Passa meia-hora, e o ônibus anda apenas 100 metros, deixando todos irritados. Alheio a situação, continua lembrando da viagem, principalmente das belas italianas que conheceu na pousada e da beleza do fundo do mar. Como se tivesse sido ordenado, abre rapidamente os olhos, como se estivesse procurando algo muito importante, quando num relance, vê pela abertura da janela passar na calçada uma morena de cabelos lisos andando calmamente, desviando das poças, também descendo a avenida. A beleza da morena levemente bronzeada o deixa paralisado, e faz questão de admirá-la da cabeça aos pés, estes semicobertos por uma sandália de couro encharcada. Ela praticamente desfila, usando óculos escuros estilosos e um vestido curto com estampa predominantemente azul, e está debaixo de um – até ali inédito para ele – guarda-chuva azul-turquesa com flores brancas.
"Conto no. 1.01" (LHR, 2005) - Parte 1
Foto do site Alma Carioca, da parte dos Bairros, Centro:
http://www.almacarioca.com.br/centro.htm
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Já vou avisando que o fim (na 3a ou 4a parte, dependendo de como eu separar) é sem nexo (não é um "fim" propriamente dito). Se eu tiver inspiração, eu escrevo um um fim decente.
A versão original, "Conto no.1", é de Abril de 2002, tendo sido alterada somente agora.
Ele olha novamente em direção à Central do Brasil, onde passa um jatinho branco contrastando com o céu cinzento. Seu ônibus chega, e como todos os outros, pára 10 metros depois do ponto, fazendo os passageiros correr para entrar no coletivo, não muito cheio, mas que pela fila para entrar, o faria ir em pé até a Lagoa. O ônibus vira à direita, entrando na Rio Branco e vai andando bem devagar devido ao trânsito intenso. Da janela embaçada do ônibus o pouco que se pode ver é um mar cinza com manchas coloridas das capas de chuva. Assim que chuva dá uma trégua, Fernando resolve ir para o lado direito do ônibus, onde um senhor, sensatamente, deixa as janelas abertas para o ar circular. Após entrar na Rio Branco, o enorme engarrafamento começa. Os passageiros conversam sobre os mais diversos assuntos, como o Fla-Flu do dia anterior, as declarações do ex-presidente a respeito dos funcionários públicos pela manhã, misturados aos assuntos particulares. Não muito fã de conversa de ônibus, não demora a ligar o mp3 player. “Só punk-rock pra agüentar esse trânsito e melhorar o ânimo”, pensa ele.
As curtas músicas passam junto com os minutos, enquanto a mente viaja nas lembranças da viagem para mergulhar em Angra no fim-de-semana. Passa meia-hora, e o ônibus anda apenas 100 metros, deixando todos irritados. Alheio a situação, continua lembrando da viagem, principalmente das belas italianas que conheceu na pousada e da beleza do fundo do mar. Como se tivesse sido ordenado, abre rapidamente os olhos, como se estivesse procurando algo muito importante, quando num relance, vê pela abertura da janela passar na calçada uma morena de cabelos lisos andando calmamente, desviando das poças, também descendo a avenida. A beleza da morena levemente bronzeada o deixa paralisado, e faz questão de admirá-la da cabeça aos pés, estes semicobertos por uma sandália de couro encharcada. Ela praticamente desfila, usando óculos escuros estilosos e um vestido curto com estampa predominantemente azul, e está debaixo de um – até ali inédito para ele – guarda-chuva azul-turquesa com flores brancas.
"Conto no. 1.01" (LHR, 2005) - Parte 1
Foto do site Alma Carioca, da parte dos Bairros, Centro:
http://www.almacarioca.com.br/centro.htm
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Já vou avisando que o fim (na 3a ou 4a parte, dependendo de como eu separar) é sem nexo (não é um "fim" propriamente dito). Se eu tiver inspiração, eu escrevo um um fim decente.
A versão original, "Conto no.1", é de Abril de 2002, tendo sido alterada somente agora.
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